Mermão te dava até um doce (..)

Deixa que digam, que pensem, que falem!

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Guardian Angel


"Beijo seus lábios com toda a força que falta ao teu corpo frágil. Vejo-a desfalecer em meus braços, mas não sinto pena ou remorso, sei que tudo isso é necessário. Muito em breve não precisaremos disto, porque você vai entender que ainda me ama. Ouço seus lábios pálidos pronunciarem súplicas envoltas no mais puro medo, e não as atendo. As algemas estão cortando sua carne, eu sei querida, e não há nada que eu possa, ou queira fazer. Acaricio sua face coberta de sangue com dedos firmes, abraço sua cintura e posso sentir seus ossos com exatidão, agora percebo como a falta de comida a maltrata. Mas não se preocupe querida, continuas linda, e meu amor continua sendo eternamente seu. Seus olhos se fecham, sua face queima e seus lábios já não emitem som algum. Você está ardendo em febre, querida. Já é hora de livrar seus punhos desse par de metais. Porém, nem tentes fugir. Será melhor para você. Tateio o chão escuro em busca das chaves e logo abro as algemas. Tomo seu corpo nu em meus braços, envolvo-a com todo o meu amor. Minha mente já não quer aproveitar-se de você, mas minhas mãos e meus lábios não conseguem parar de explorar teu corpo. Entenda-me, querida. Não há nada que seja-me mais irresistível do que tu. Perto do seu corpo, posso ver um aglomerado de mantimentos reluzir. Olho para o corpo desfalecido em meus braços e penso em alimentar-te... mas não, querida! ... Fostes deveras cruel comigo, ousando dizer-me que não sentias mais nada por mim, chamando-me de louco, doente...! Escute querida: sou um louco, sim. E tu sabias bem disso quando adentrou minha vida e tornou-me um apaixonado por ti. Eu lhe falei, querida. Você devia ouvir mais os outros, porque às vezes eles podem estar certos. E você lembra de quantas vezes seus amigos te alertaram sobre mim? E tu, com aqueles olhinhos inocentes apenas dizia-me sorrindo: “Eu não tenho medo”. E eu sou doente, sim. Mas minha agressividade e possessividade jamais pareceram te incomodar. Tu te lembras, querida? Tu nunca me pediste para parar, tu dizias que não era fraca...! E eu, como um tolo, acreditei em ti. E eu te amei como nunca imaginei ser capaz. Todas aquelas pessoas estúpidas pareciam mais inferiores ainda se comparadas a ti. Tu eras tão diferente de todas elas, tão melhor! Diga-me querida, eu realmente ultrapassei os limites? Mas como saberia eu até onde poderia ir, se tu nunca me disseste? E agora querida, depois de todo esse tempo em que nos amamos, vem tu me dizer que não ama-me mais? E ainda ousa, ouça bem querida, e ainda ousa dizer-me que ama outro homem? Ah querida, desculpe-me, mas me parece que a doente aqui é você. Diga-me, que outro homem poderia entender-te como eu entendo? Que outro homem poderia fazê-la feliz como eu faço? E agora, estava em meus braços um emaranhado de ossos cobertos por uma fina camada de pele cortada, arranhada, machucada... Seu corpo, querida. O que ainda resta dele. Vejo-a mover-se de um lado a outro, com espasmos violentos que fazem-na debater-se em meus braços. Seus olhos se entreabrem e de sua boca escapam murmúrios inteligíveis. Você está morrendo, querida. Eu queria poder salva-la sim, porque a morte não é ruim o bastante para fazer-lhe pagar por todo o meu sofrimento. Mas o amor perdoa tudo, não é o que dizias tu? Tu te lembras, querida? De todas aquelas promessas que tu fazia deitada em meu peito e envolta em meus braços... E eu, sabendo que tu jamais cumpriria com todas elas, apenas dizia-lhe para não contar-me mentiras, porque eu poderia acreditar. E tu, com aqueles olhinhos cor-de-mel dizia que me amava e que nunca poderia mentir-me. Mas você mentiu querida. E agora eu te perdôo, e como prova do meu amor, não deixarei que sofra até morrer. Veja querida, eu trouxe várias facas comigo. Qual você prefere? Eu gosto dessa aqui, parece-me bastante afiada. Aproximo a faca de sua pele, e movido por um súbito desejo insano, faço pequenos cortes em seus seios. Observo sua pele pálida tingir-se de vermelho, e eu queria que tu pudesses me ouvir agora querida, que linda estás com esse líquido viscoso a cobrir-lhe. Beijo seus lábios frios temendo que seja a última vez, e finalmente deixo a faca ultrapassar sua pele. Vejo seu corpo contorcer-se num último e angustiante espasmo, e aproximo-me de tuas narinas, mas tu já não respiras mais, querida. Devolvo seu corpo nu ao chão, e só agora percebo quão tolo fui. Como pude deixá-la morrer assim? De forma tão simples... Mas não se alegre, querida. Foi o meu amor que te perdoou. E agora que teus pequenos lábios já não podem dizer palavras que maltratem meu coração, eu os contemplo. Na verdade, eu contemplo cada parte que te forma, cada pedaço seu de beleza inigualável. Seu corpo sem vida não parece-me menos atraente, querida. São onze horas, eu sei querida. Tu te lembras? Foi neste horário que teu corpo pertenceu-me pela primeira vez. Naquele terraço, enquanto, de vez em quando, ainda lembrávamos das estrelas a enfeitarem o céu acima de nossas cabeças. E tu te lembras de como estavam seus olhinhos no momento em que me disse: “Eu sou tua. Só tua.”? E eu te pedi tanto para não contar-me mentiras... Mas eu acreditei em você, querida. E continuo acreditando, pois você é minha, apenas minha. Você me acharia doente se eu a quisesse agora, querida? Pois retorno a dizer-te, sou doente, sim. E isso nunca a incomodou. E é por isso que eu tomo seu corpo frio nos braços, e sem hesitar em nenhum momento, logo deixo-me invadir você. E saiba querida, isso não é pior agora. E é assim, dentro de você, que meus dedos pegam a faca ensangüentada que perfurou seu corpo. Para tirar minha vida com o mesmo objeto que tirou a tua, para que eu possa morrer assim, unido a você. E talvez em outro plano, outro mundo, possamos rapidamente nos reencontrar, para que ao menos eu possa beijar teus lábios por mais uma vez, e dizer que eu te perdôo... Que eu te perdôo, querida. "

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